segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

"Let's love ourselves then we can't fail"


Everything is everything - Lauryn Hill

Everything Is Everything
Everything Is Everything
Everything is everything
What is meant to be, will be
After winter, must come spring
Change, it comes eventually
(2x)


I wrote these words for everyone
I philosophy
Now, everything is everything
Sometimes it seems
Let me tell ya that,
Everything is everything

Who struggles in their youth
Who won't accept deception
Instead of what is truth
It seems we lose the game,
Before we even start to play
Who made these rules? We're so confused
Easily led astray
Let me tell ya that
Everything is everything
Everything is everything
After winter, must come spring
Everything is everything

Possibly speak tongues
Beat drum, Abyssinian, street Baptist
Rap this in fine linen
From the beginning
My practice extending across the atlas
I begat this
Flippin' in the ghetto on a dirty mattress
You can't match this rapper / actress
More powerful than two Cleopatras
Bomb graffiti on the tomb of Nefertiti
MCs ain't ready to take it to the Serengeti
My rhymes is heavy like the mind of Sister Betty
L. Boogie spars with stars and constellations
Then came down for a little conversation
Adjacent to the king, fear no human being
Roll with cherubims to Nassau Coliseum
Now hear this mixture
Where hip hop meets scripture
Develop a negative into a positive picture

What is meant to be, will be
After winter, must come spring
Change, it comes eventually

We'll touch that dream
But things come slow or not at all
And the ones on top, won't make it stop
So convinced that they might fall
Let's love ourselves then we can't fail
To make a better situation
Tomorrow, our seeds will grow
All we need is dedication

Everything is everything
Everything is everything
After winter, must come spring
Everything is everything

What is meant to be, will be
After winter, must come spring
Change, it comes eventually

More Strong


Next Lifetime - Erykah Badu

Now what am I supposed to do
When I want you in my world
How can I want you for myself
When I'm already someone's girl? (2 times)


First time that I saw you boy
Repeat 1-(2 times)
I guess I'll see you next lifetime
You're imaging
Repeat 1 (2 times)
Well I guess I'll see you next lifetime
See it ain't nothing wrong with dreaming
Repeat 1 (1 time)
I guess I'll see you next lifetime
Repeat 1 (1 time)
I guess I'll see you next lifetime
Repeat 1 (1 time)
I guess I'll see you next lifetime

It was a warm and sunny day
All I know is I wanted you
I really hoped you looked my way
When you smiled at me
So warm and sweet
I could not stay
You make me feel like a lilting girl
What do you do to me


No hard feelings
I guess I'll see you next lifetime
I'm gonna be there

Feels so damn good to me
It picks me up don't wanna come down
You got me spinning all around
Yeah
You need to know
I've got that somebody
You're beautiful
But it ain't that type of party


Baby we'll be butterflies
I guess I'll see you next lifetime
That sounds so divine
I guess I'll see you next lifetime
I guess I will now
I guess I'll see you next lifetime
Wait
Wait a little while

Boy don't get me wrong
Cause every time (every time) I see you (every single time)
I know just how strong (every single time)
That my love is for my baby
But emotions just don't lie
Well I know I'm a lot of woman
But not enough to divide the pie


You know I want to stay around
I guess I'll see you next lifetime
I'm so confused now


Already
I'm going to be there
I guess I'll see you next lifetime
I'm going to look for you


Oh
Oh baby
I'm gonna be there
I'm gonna be there

sábado, 28 de dezembro de 2013


Wings of Desire


Tem os sorrisos que cantam
sem melodia, mas com o
ritmo da satisfação plena.

Tem as crianças correndo felizes
gritando contentes. E os homens que
observam e também querem brincar.

Tem a mulher que saiu de casa decidida
a se aventurar. E se a vida se exibe tácita
A mulher chega a ser explícita.

Porque de repente, viver se tornou
Urgência e sentir uma
Constância. A mulher ainda não ama

Mas deseja.

Danieli de Castro

The dreamers


Já sei namorar - Tribalistas

Já sei namorar
Já sei beijar de língua
Agora só me resta sonhar
Já sei aonde ir
Já sei onde ficar
Agora só me falta sair

Não tenho paciência pra televisão
Eu não sou audiência para a solidão
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo e
Todo mundo me quer bem
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo e 
Todo mundo é meu também 

Já sei namorar
Já sei chutar a bola
Agora só me falta ganhar
Não tem um juíz
Se você quer a vida em jogo
Eu quero é ser feliz

Não tenho paciência pra televisão
Eu não sou audiência para solidão
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo e
Todo mundo me quer bem
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo e 
Todo mundo é meu também 

Tô te querendo
Como ninguém
Tô te querendo
Como Deus quiser
Tô te querendo
Como eu te quero
Tô te querendo
Como se quer


sábado, 14 de dezembro de 2013

PLOY


O dia do branco

Menina levanta bota o corpo para gingar
canta para Oxalá e se acalma toda...
O dia começa é o caos que se inicia?

Menina olha para o passado
e sorri maravilhada: ficou mais bonita...
Como o moço sempre lhe dizia, que o tempo passava e a beleza dela aumentava...

Constantes pensamentos desenfreados
cansam o corpo dela que caminha entre as vozes
e anúncios da cidade.

Mas tem a pausa...
Ela sonha...
Os homens entregam suas forças e seguem caminho.

Ela acorda. E o corpo assumindo uma lua
ainda desconhecida. Aluada, caminha
Tressonhada, incomodada, lívida.

Cada movimento uma tentativa
a mulher olha para o mundo menina já não é mais
porque o corpo diz: já é hora...

Pensamentos não param
não param
não param

não param...

Ela tenta, mais uma vez concentrar-se.
Não é fácil.

No meio do caminho
uma vertigem
a raiva espelhada fere.

Ela tenta, mais uma vez concentrar-se.
Não é fácil.
As pulsações do seu coração é seu corpo inteiro.

Ela, a menina. A mulher.
Não compreende o esforço que emprega.

e tem quem olhe e não se agrade com o que vê,
ela nem pensa no que poderia ser além do que já é.

Tempo passa
o poema aumenta
as batidas do coração
apaziguadas...

A noite não tem fim.
E teve o homem que disse na praça:
é bom ter um corpo que seja você.

Ela descompreendeu, mas sentiu-se só.

Frustração, raiva, incompreensão
caos, fúria, ignorância... lavadas as palavras talvez fiquem mais bonitas.

Ela tentou:

Esperança, energia positiva, compreensão
harmonia, paz interior, sabedoria.

Agora pode ir dormir em paz.
O sono finalmente chegou.
Durma bem, menina, bons sonhos.

Danieli de Castro

Chocolate


Valsinha - Chico Buarque

Um dia ele chegou tão diferente
Do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto
Quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto
Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar

E então ela se fez bonita
Como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado
Cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços
Como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça
Foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança
Que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade
Que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013


in: Yulunga - Spiritual Dance - Dead can dance

O caminho do Tao

Ts´ao era um jovem que nascera numa família de imperadores. No entanto, desde menino, ele nunca demonstrara interesse por política, riquezas ou conquista de poder. Ao contrário, seu irmão não media esforços para ganhar mais terras ou jóias. Impiedoso, passava por cima de amigos ou parentes quando queria obter o que desejava.
Horrorizado com os sofrimentos que o próprio irmão causava tanto à família imperial quanto ao povo, Ts´ao tentou desviá-lo desse caminho. Mas, quando percebeu que seus esforços tinha sido totalmente inúteis, Ts´ao deixou o palácio para viver na natureza, cultivando a sabedoria do Tao, o verdadeiro caminho.
Certa manhã, Ts´ao recebeu a visita de dois sábios imortais, e eles lhes disseram:
- Soubemos que você abandonou a vida imperial para cultivar a simplicidade dos antigos mestres.
- É verdade - respondeu Ts´ao.
- Então, por favor, responda às nossas dúvidas.
- E quais são suas perguntas? - ele disse.
- Onde fica o caminho do Tao?
Ts´ao apontou para o céu.
- E onde fica o céu? - indagou o imortal.
- Dentro do meu coração - respondeu Ts´ao.
Sorrindo, os imortais o aplaudiram e lhe disseram:
- O Tao é o caminho do céu e este caminho habita seu coração. Você realmente conhece a natureza da vida.
Então, os três se abraçaram, rindo. Em seguida, os imortais convidaram Ts´ao para acompanhá-los até o reino eterno.

Ts´ao Kuo- Chiu

Os imortais


O Imperador Amarelo

Certo dia, Huang Ti, chefe de uma tribo, resolveu mudar de nome. Passou a chamar-se Hsiung, que significa "urso". Após essa mudança, sua coragem e sabedoria o tornaram célebre e respeitado por toda a região do rio Amarelo.
Acontece que, uma noite, todas as tribos que viviam ao longo do rio foram atacadas por ladrões, e Hsiung, o urso, foi convocado para liderar um grupo de combate aos criminosos.
O líder dos ladrões era muito hábil nas artes marciais, perito em estratégias de combate. Além disso, ele contava com a ajuda de feiticeiros capazes de invocar a neblina, tempestades de raios e terríveis nevascas.
Mesmo assim, Hsiung conseguiu capturá-lo após uma luta intensa. Porém, após ser derrotado num duelo, o líder escapuliu, auxiliado pela neblina enfeitiçada lançada para protegê-lo. Para piorar a situação, Hsiung e seus guerreiros foram lançados no meio de um labirinto e nele vagaram famintos e exaustos durante muito tempo.
Quando percebeu que seus homens começavam a fraquejar, Hsiung decidiu invocar a proteção dos espíritos guardiões dos abismos inexpugnáveis. Ele se ajoelhou e entoou uma prece em sua homenagem. Logo depois, uma delicada luminosidade clareou-lhes o caminho e uma voz doce lhe disse:
- Hsiung, o urso, eu sou a Senhora dos Nove Céus e preciso dizer-lhe que foi destinado a unir as tribos e ser seu rei. Por isso, nossa Imperatriz Celestial pediu que eu lhe entregasse esses presentes.
Primeiro, ela lhe entregou um imã - dizendo-lhe:
- Este imã sempre aponta para o sul. Assim, caso você esteja desorientado por causa da neblina, a pedra o ajudará a encontrar seu caminho.
Depois, ela lhe deu dois livros e disse:
- O primeiro livro o ensinará a prever os movimentos de seu inimigo. O outro o ensinará como derrotar o líder dos ladrões.
Além desses presentes, a Senhora dos Nove Céus lhe entregou diversos talismãs, como bandeiras mágicas, penas de águia e espadas invencíveis.
Os livros continham tesouros da sabedoria e, entre vários ensinamentos, Hsiung aprendeu o seguinte:

Quando uma forma se move, ela produz uma sombra, não outra forma. Quando um som reverbera, produz um eco, não outro som. A imobilidade não gera imobilidade, mas movimento. 
Embora as coisas sejam aparentemente diferentes, elas vêm de uma mesma origem e voltarão para a mesma fonte. Algumas coisas duram mais, outras menos. As pessoas usam as palavras "começo" e "fim" mas, começo é quando a energia se reúne e fim é quando ela se dissipa. A energia reunida pode se dissolver, se as condições forem desfavoráveis; a energia dissolvida pode se juntar novamente, se as circunstâncias forem adequadas. Portanto como se pode saber quando algo começa ou termina? 
Nosso espírito é produto do céu e nossos ossos são produtos da terra. Quando eles não conseguem mais permanecer juntos, cada parte retorna à fonte. O que é puro e luminoso vai para o céu, o que é enlameado e pesado fica absorvido pela terra. 
Quando isso acontece, dizemos que a pessoa virou um fantasma. Em chinês, a palavra que designa fantasma, "Kuei", também significa retorno. Então, tornar-se um fantasma quer dizer regressar ao céu e à terra. Portanto, a morte não  é o fim, mas uma volta à origem. Durante a morte, os componentes que formaram uma pessoa regressam ao seu estado de origem, antes de terem formado uma pessoa. 
Nosso tempo nesse mundo é uma jornada através do ciclo que chamamos de vida. Como convidados, ficamos um tempo nesse reino antes de partirmos para outro. E quem saberá dizer quanto tempo esse viajante permanecerá no outro reino antes de voltar a visitar a terra dos vivos? 

Depois de terminar suas leituras, Hsiung sentiu-se apto para o confronto e voltou a desafiar o líder inimigo. Durante o duelo, quando percebeu que perdia, o ladrão novamente chamou seus feiticeiros para que invocassem uma espessa neblina. Porém, desta vez, Hsiung havia se protegido e, usando o imã, encontrou seu caminho, perseguindo o inimigo até capturá-lo.
Ao sair vitorioso do embate, Hsiung foi aclamado como o Imperador Amarelo, sendo capaz de reunir todas as tribos sob seu reinado.
Anos de paz e prosperidade seguiram-se em toda aquela região do rio e, lembrando-se de como os livros o haviam ajudado no passado, o imperador foi tomado pelo desejo profundo de retomar o estudo sobre os ensinamentos do caminho do Tao. Nessa mesma ocasião, chegou ao seu reino um sábio, que se refugiou numa caverna, e o imperador foi ao seu encontro.
- Quero aprender sobre a sabedoria do Tao - ele lhe disse.
E o sábio lhe respondeu:
- Depois que sua majestade assumiu a liderança de sua nação, a prosperidade instalou-se entre seus súditos. A chuva cai sem tempestades, as árvores espalham suas folhas ao sabor de brisas suaves e a luz do sol e da noite banham os desertos.
Intrigado, o Imperador Amarelo regressou ao palácio e ficou pensando: " O sábio quis me dizer que quando as coisas seguem o fluxo natural do Tao, elas se renovam naturalmente. Mas, após tantos anos de reinado, sinto-me velho e cansado. Isso significa que não estou me renovando. Devo estar cometendo algum erro grave."
Alguns meses depois, lá se foi o imperador conversar novamente com o sábio. Ao vê-lo, ele lhe perguntou:
- Por que voltou, sua majestade?
- Sinto-me cansado, preciso aprender como me renovar - ele explicou.
- O Tao - respondeu o sábio - não tem forma. É invisível. É inaudível. Mas se o senhor esvaziar o coração e aquietar a mente, a energia do Tao se manifestará.
Na volta ao palácio, o imperador mandou construir um abrigo. Afastou-se das questões políticas e tentou esvaziar o coração. Porém, a cada dia que passava, mais fraco ele ficava e, pela terceira vez, voltou à caverna do sábio.
- Caro mestre - ele disse - , obedeci às suas instruções e só fiquei pior.
Foi então que o mestre lhe disse:
- Sua majestade nasceu para reinar. Esta é a sua natureza original.
Finalmente, o Imperador Amarelo compreendeu seu erro.
- O senhor está certo - ele disse ao sábio. - Antes, eu estava tão envolvido com meu reinado que me esquecia de cuidar de mim mesmo. Depois, fiquei tão ocupado comigo mesmo que me esqueci de meu reino.
Daquele momento em diante, o imperador tratou de encontrar um equilíbrio, conciliando tudo o que fazia. Reinando e estudando, um dia criou a pílula da imortalidade. Chamou seu mais fiel ministro e o declarou sucessor de seu cargo. Em seguida, ingeriu a pílula e, simplesmente, adormeceu.
Sonhou que montava no dorso de um imenso dragão e voava até alcançar a terra dos imortais. Nesse reino não havia líderes ou professores, pois ninguém era mais sábio do que o outro. As pessoas não ficavam loucas para desfrutar os prazeres da vida, mas também não temiam a morte, vivendo em paz. Entre elas não havia preconceitos ou preferências. Seus habitantes não sabiam o significado da atração ou da repulsa, portanto não gastavam tempo desejando ou detestando as coisas.
Como não havia nada a temer, elas nadavam debaixo da água sem afogar-se, caminhavam pelo fogo, sem queimar-se. Podiam cortar-se em espadas, sem sofrer ferimento algum. Flutuavam no espaço como se estivessem caminhando em solo firme. As nuvens e a neblina não impediam sua visão, os trovões não os ensurdeciam, tanto a beleza quanto a feiúra eram consideradas normais. Viajantes do espírito caminhavam descalços nos caminhos mais perigosos, saltavam de precipícios e voavam até vales distantes.
Quando despertou, o Imperador Amarelo sentiu-se iluminado. Reuniu seus ministros e lhes disse:
- Passei três meses tentando descobrir a melhor maneira de governar um país. Porém, a resposta veio por meio de um sonho e não por meio do raciocínio. Agora sei que o Caminho não pode ser trilhado pelo pensamento. Ele só é alcançado quando a gente para de se preocupar. Em seguida, o Imperador Amarelo lhes falou a respeito de seu lindo sonho.
Vinte anos depois, o reino do Imperador Amarelo chegou a ficar bem parecido com a terra mítica de seu sonho, pois ele se tornara um governante de sabedoria excepcional.
Nas terras dos seres imortais, o alimento vem das nuvens e da neblina e seus habitantes têm a mente tão clara quanto um lago cristalino. Ninguém envelhece, pois todos permanecem abertos, amistosos e espontâneos como crianças. As pessoas cumprem suas obrigações e ajudam os semelhantes. Não há temor, nem raiva ou tensão. Ninguém é superior ou inferior. O Sol e a Lua emitem uma luz delicada, as estações são suaves e a terra é rica. As divindades abençoam a Terra e os monstros não se aproximam dela. Esta é a Terra que o Imperador Amarelo visitou durante o sonho.

Lieh tse

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013


jasmim do cabo 
um chão todo florido
e perfumado

Alice Ruiz S

HAIJIN

Haijin é a pessoa que faz haikai.
Hai de haikai mais jin de pessoa. Portanto poeta.
Mas um tipo diferente de poeta.
Por exemplo, haijin é poeta de pouca ou nenhuma rima.
Embora, dentro do haikai, as palavras conversem entre si, isso não acontece necessariamente na última palavra de cada verso, mas lá dentro, como se os sons que ecoam brincassem de esconde-esconde.
Haijin não costuma usar palavras complicadas, de significados difíceis ou misteriosos. Daquelas nos obrigam o tempo todo a consultar o dicionário.
O haijin escreve como quem fala.
Como se estivesse conversando conosco.
Haijin não escreve sobre seus próprios sentimentos ou pensamentos. Escreve sobre as coisas. Simplesmente descreve o que vê.
Deixa que as coisas falem por si. E elas falam. Porque o tema, o assunto do haikai, é a natureza.
E a natureza oferece mais ensinamentos do que muitos mestres e livros juntos.
E muito melhor do que muitas teorias superelaboradas.
Haijin é quem esquece de si mesmo ao olhar uma flor, uma estrela, um capim ou a gota de orvalho que balança na ponta de um galho. Ou mesmo um dia de chuva , um mosquito, uma árvore seca. Como se ele mesmo fosse cada uma dessas coisas.
O haijin não olha com a mente. Não olha com o coração. Haijin é quem olha com os olhos. Como se nem seu coração, nem sua mente, nem ele mesmo estivesse ali. E ao mesmo tempo ele está totalmente envolvido com cada coisa que ele olha. Como se ele e a coisa olhada fossem um só. Sem sentir. Sem refletir. Sem pensar. Sem intenção. Ele apenas registra [...]. Só que faz isto com as palavras.
Uns diriam que é óbvio. Outros diriam que é difícil. Todos estão certos. Porém, mais certo está o haijin. Porque olha além do óbvio. Além do difícil. Olha para onde tudo, simplesmente existe.

Alice Ruiz S. 
 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Ilustração de Maurício Negro


in: Zanzibar, a ilha assombrada, ed. Cortez - Rogério Andrade Barbosa

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Desculpa perguntar

Já sentiu desespero, mano?
Aquele do mergulhado em águas claras
Quando veio o redemoinho?
Aquele salvo pelo braço que avisou do buraco...
Unhas seguras na saliência da rocha.
Agradecidas de frio e de medo.
Pequenez e grandeza no fiapo do seu nome.

Já sentiu humilhação, rei?
A que trouxe na cangaia as caixas de fruta
que num podia mexer nem em uma baga,
a do chegado na feira e escorraçado.
Nos berros, cuspido pra fora
depois do almoço vazio
Quando perguntou se ia receber sua paga.

Já foi cabeçalho da notícia da chacota, camará?
Ao rasgarem seu vestido
com a bença e os aplausos da covardia?

Se encharcou na chuva ácida da vergonha?
Sintonizou a rádio do desprezo,
Chiadinha, o dia inteiro da voz de teu pai?

Já sentiu paixão, Ganga?
Das de pintar a chuva?
De errar cada flechada de palha
usando arco de papel molhado?
E ela passou no vento...
Mesmo vento que ardia no pus
Toda tardinha?

Já perdeu batalha, Mestre?
Depois que bebeu a vitória...
no cálice da arrogância a sua golada.
E com o nariz entupido no arreio
Nao conseguia traduzir, farejar
o que fosse futuro?

Já apertou a mão da hipocrisia, Don?
Suja de perfume...
Já ganhou na bochecha
O lábio farofado de quem jura de morte
sussurrando na casa vizinha?
De quem envenena a sobremesa
por cima do muro,
Dá gamela em mal querença
de doce pro teu filho
e declara a temporada de estupro
a quem coloca no dedo e no pescoço
o anel branco de simpatia?

Já cozinhou na panela da saudade?
Costurou o calendário
Pôs no forno a massa lacrimejada
e comeu o pão
o miolo da decepção
Quando a andorinha voltou
mascarada de pavão?


Allan da Rosa 
(Alto do Rosário, Mariana, Minas Gerais
02 de dezembro de 2013)

domingo, 1 de dezembro de 2013

Cedro


Pablo Picasso

O beijo - 1969

Eclipse oculto - Caetano Veloso

Nosso amor
Não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto
Fomos quase nada
Tipo de amor
Que não pode dar certo
Na luz da manhã
E desperdiçamos
Os blues do Djavan...
Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração
Tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida...
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?
Como nunca se mostra
O outro lado da lua
Eu desejo viajar
Do outro lado da sua
Meu coração
Galinha de leão
Não quer mais
Amarrar frustação
O eclipse oculto
Na luz do verão...
Mas bem que nós
Fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama
Nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama....
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?
Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar...
Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero
Sem tédio, sem fim...
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?