terça-feira, 23 de agosto de 2016

Saudosa Maloca...


Maloqueira, eu?

Segunda-feira:
Minha história coube em trinta minutos
E ainda pude livremente chorar


Com um certo pejo
claro... mas, com propósito
Libertador.


Meu pai me chamou:
- Maloqueira.
Algo sutilmente doeu em mim.


Será que meu pai não me conhece?


Não sabe que sim, que andei pelas ruas
pedindo dinheiro, que já passei fome,
Maus tratos, assédios...


Que vivi numa maloca de madeira
até os dezenove anos de idade...
Quando fui expulsa de casa
Ao voltar da universidade...


E que eu chorei! Sim... muito,
Mas lutei, todos os dias com dor e
com medo, mas com um esperança
Absoluta.


Com a mansidão e inteligência
de uma fera controlada
fui avançando as esferas de uma
sociedade excludente.


E agora? Não, senhor!
Maloqueira não, sou Poeta!
Artista por extensão.


Dançando nas contrariedades
Da vida, atuando com a solidão
Maloqueira não, sou artista!
Poeta por extensão!


Terça-feira:
Minha história coube num poema
E ainda posso livremente sonhar.



Danieli  Casimani




sexta-feira, 12 de agosto de 2016


O semelhante

O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,

Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.

Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.

Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
É mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.

O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.

O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente

Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.
Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança
Elisa Lucinda 

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Qual é?


Tem gente

Tem gente que ri
Tem gente que chora
Tem gente que faz os dois na mesma hora
Tem gente que machuca
Tem gente que ama
Tem gente que só quer levar para cama

Tem gente que tem esperança
Tem gente que sorri igual uma criança
Mas também...
Tem gente que não acredita em nada
Que sofre com a alma machucada

E você que gente é?
Gente que corre atrás do que quer ou
que fica parado igual um Zé Mané?

Débora M. Bispo da Silva