terça-feira, 12 de março de 2013

Mimar você - Caetano Veloso


Te quero só pra mim
Você mora em meu coração
Não me deixe só aqui
esperando mais um verão
Te espero meu bem
Pra gente se amar de novo
Mimar você
Nas quatro estações
Relembrar
O tempo que passamos juntos
Bem bom viver
Andar de mãos dadas
Na beira da praia
Por esse momento
Eu sempre esperei

Para  The Nogenth Two, com amor! 

domingo, 10 de março de 2013

35 doses de rum


Poema resposta: A irmã do meio?

Era sempre a mesma história, sempre ela que tinha que ir desligar a tv. E se não desligasse havia bronca no dia seguinte. Esta foi a parte da história que começou bem antes desta história que vem a seguir: Já tá começando, ssssssssssssiu...

Foi assim, primeiro a moça acordou bela. Aí saiu e o sol a viu: Ela reverberou... E as cores tingindo o cinza de São Paulo, a vida ficando mais suportável, mais bonita, mais poética, mais lírica... Por uma ajustamento que aconteceu no meio do texto da moça. Ela achou bonito, embora pouco importante, na verdade, passível mesmo de manter segredo, mas já que era preciso dizer, então diria: mas do jeito dela. Decisão e calma, um bom humor bem vindo! E a nuvem mandou descer o banho daquele momento... Porque naquela tarde de sábado, no instante mesmo em que ainda estava o guarda-chuva fechado na mão da moça, à espera certa, de logo ela ia descer: a chuva... parecia chover apenas para algumas pessoas... chuva carícia, daquelas que vem limpar aquele restinho de doce no canto da boca... suave.

Sua Ave... nida Paulista, continua a mesma. E a chuva decidiu cair mesmo quando a moça já estava abrigada. E o que vinha de se acontecer não acontecia, o tempo passando, os pés balançando e o tempo que ia... e nada... como olhar do meio do mar para o mundo...

Aconteceu que o que não acontecia pulou na ordem das coisas e o que não se esperava acontecer, aconteceu. Assim, não de pronto, com um pouco de ensaio e percepção... Assim.

E a noite continuou linda, daquelas dos dezoito anos eternos, que nunca terminam, porque de vez em quando vem também colorir a noite. Como uma inesperada chuva e debaixo dela, pessoas expondo-se nuas em busca de paz... de liberdade, de ousadia... Assim.

E noutro dia a moça viu novamente o rosto que lhe fez aquela pergunta tão inesperada. E pôde então entender a estranheza da pergunta e do gesto: um rosto lindo que esconde a metade de um segredo... Tudo bem, a vida ter os caminhos que tem. O tempo e as situações são como a chuva, acontecem  e desacontecem. Assim. Sucessivamente. Nenhum de nós escapamos das casualidades. Creio afinal, que sobretudo, a moça está grata pela beleza do encontro e a possibilidade de um amigo.

Agora dorme, e sonha tranquila. Afinal não precisa mais desligar a tv, porque há muito tempo já não a liga.

Assim termina a história. Boa noite.

Danieli de Castro

sábado, 9 de março de 2013

Silêncio ancestral...


Poema esquisito

Dói- me a cabeça aos trinta e nove anos.
Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.
Ninguém tem culpa.
Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,
não existe mais o modo
de eles terem seus olhos sobre mim.
Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu para eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,
que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol.
Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra quê, se para chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Ôôôô pai
Ôôôô mãe
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros,
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Ôôôô fia.

Adélia Prado


Water


Leitura

Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras.
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora de seu tempo desejadas.
Ao longo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá fora o mundo havia parado de calor.
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os lábios de novo e a cara circulados de sangue,
caçava o que fazer pra gastar sua alegria:
onde está meu formão, minha vara de pescar,
cadê minha binga, meu vidro de café?
Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera.

Adélia Prado 

Por uma sinfonia


Módulo de Verão

As cigarras começaram de novo, brutas e brutas.
Nem um pouco delicadas as cigarras são.
Esguicham atarraxadas nos troncos
o vidro moído de seus peitos, todo ele
 - chamado canto - cinzento-seco, garra
de pêlo e arame, um áspero metal.
As cigarras têm cabeça de noiva,
as asas como véu, translúcidas.
As cigarras têm o que fazer,
têm olhos perdoáveis.
Quem não quis junto deles uma agulha?
 - Filhinho meu, vem comer,
ó meu amor, vem dormir.
Que noite tão clara e quente,
ó vida tão breve e boa!
A cigarra atrela as patas
é no meu coração.
O que ela fica gritando eu não entendo,
sei que é pura esperança.

Adélia Prado 

domingo, 3 de março de 2013

O lado bom da vida


"Uma parte d´"A história de Lily Braun - Chico Buarque


"Como num romance
O homem dos meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom
Ele me comia
Com aqueles olhos
De comer fotografia
Eu disse cheese
E de close em close
Fui perdendo a pose
E até sorri, feliz
E voltou
Me ofereceu um drinque
Me chamou de anjo azul
Minha visão
Foi desde então ficando flou
Como no cinema
Me mandava às vezes
Uma rosa e um poema
Foco de luz
Eu, feito uma gema
Me desmilinguindo toda
Ao som do blues
Abusou do scotch
Disse que meu corpo
Era só dele aquela noite
Eu disse please
Xale no decote
Disparei com as faces
Rubras e febris
E voltou
No derradeiro show
Com dez poemas e um buquê
Eu disse adeus
Já vou com os meus
Numa turnê"