O rei, que amava sua esposa tão intensamente, decidiu:
Eu mesmo vou procurar a cura para a doença da minha rainha.
E lá foi ele procurar a cura para a sua rainha. Andou por cidades e campos. Num desses campos, avistou uma cabana. Ao chegar perto, aproximou o rosto da janela e viu, lá dentro, um casal de camponeses. O camponês mexia os lábios e, na frente dele, a camponesa, gordinha e rosadinha, não parava de gargalhar. Os olhos daquela mulher transbordavam felicidade.
O rei começou a pensar:
O que será que faz essa mulher ser tão feliz assim?
Com essa pergunta na cabeça, ele respirou fundo e bateu à porta da cabana.
Majestade! O que o nosso rei deseja? - perguntou o súdito, um pouco assustado com a presença real a sua frente.
Quero saber, camponês, o que você faz para sua mulher ser tão feliz e saudável? A minha rainha está morrendo no castelo, toda tristonha.
Muito simples, Majestade: alimento a minha mulher todos os dias com carne de língua.
O visitante pensou que tivesse ouvido errado: carne de língua! O morador da cabana repetiu:
Alimento minha esposa diariamente com carne de língua.
A situação era de vida ou morte. O rei, mesmo achando aquilo meio estranho, agradeceu ao homem do campo e foi correndo de volta para o castelo. Chegando lá, mandou chamar imediatamente a sua presença o cozinheiro real:
-Cozinheiro, prepare já um imenso sopão com carne de língua de tudo o que é animal vivente na Terra.
- O quê?! Como assim, Vossa Majestade? - estranhou o chefe da cozinha real, com um ponto de interrogação no rosto.
Você ouviu direito! Carne de língua de todos os animais do reino! Corra, porque a rainha não pode mais esperar.
O cozinheiro foi chamar os caçadores do reino. Passadas algumas horas, ele tinha a sua frente línguas de cachorro, gato, rato, jacaré, elefante, tigre, girafa, lagartixa, tartaruga, vaca, ovelha, zebra, hipopótamo, sapo, coelho...
No meio da noite, a nova sopa já estava pronta no caldeirão. O próprio rei foi alimentar a rainha com carne de língua. Entrou no quarto e ficou espantado com a aparência dela. Sentou-se ao lado, pegou uma colher do sopão e a aproximou da boca de sua amada esposa. Com muito esforço, ela engoliu algumas colheradas daquela comida exótica.
O rei esperou, esperou e esperou, mas a rainha não melhorava, muito pelo contrário, parecia que a morte a levaria a qualquer momento. Cansado de esperar, ele se desesperou. Se não fizesse algo, sua mulher iria embora para sempre.
Soldado! Soldado! - gritou.
Um homem enorme, com armadura e espada, entrou no quarto.
Escute bem, soldado. A rainha tem que ser transferida imediatamente para a casa de um camponês. La você encontrará uma mulher gordinha e rosadinha; quero que a traga até aqui.
Então explicou ao soldado onde ficava a casa desse homem do campo. Essa era a única chance, ele imaginava, de a mulher sobreviver. Mas talvez o rei não tivesse entendido direito o que o camponês lhe dissera.
Corre, corre soldado! A vida da rainha depende disso!
O soldado pegou a rainha no colo e com a ajuda de outros homens saiu em disparada até a casa no campo. A troca foi feita e, assim que a camponesa entrou no castelo, adoeceu misteriosamente. Depois de três semanas, aquela mulher, que era gordinha e rosadinha, estava magra e triste. O rei, então, decidiu ver como estava a sua esposa.
Chegando na cabana, pôs o rosto na janela e... Não podia ser! A rainha estava gordinha, rosadinha e gargalhava como nunca se vira antes. A sua frente, o camponês não parava de mexer os lábios. O rei bateu porta:
Novamente por aqui, Majestade! O que deseja?
Camponês, a que está acontecendo? A sua esposa está morrendo no meu castelo e a minha está toda feliz e saudável aqui na nossa frente.
- Me diga, Vossa Majestade: o que fez?
-Fiz exatamente o que você mandou. Dei carne de língua de cachorro, gato, sapo, coelho, girafa... para minha rainha e para sua esposa também. Mas, caro súdito, de nada adiantou.
-Vossa Majestade não compreendeu o que eu disse, riu-se o homem do campo. Eu alimentei a rainha e a minha esposa com carne de língua: as histórias contadas pela minha língua.
Sua Majestade meditou um pouco sobre aquelas palavras. Lembrou-se também dos lábios daquele homem se mexendo. Parecia que agora havia entendido. Chamou sua esposa de volta e mandou a camponesa de volta para sua casa. Assim que a rainha entrou no castelo, o rei prometeu que lhe daria todas as noites, antes de dormir, carne de língua.
A partir daquele dia, contam os quenianos, o rei contava uma história diferente todas as noites. Esse povo africano nos revelou que nunca mais a rainha ficou doente. Ensinaram-nos um segredo: as histórias fazem muito bem para as mulheres, homens, crianças, jovens, velhos - e até mesmo para os Reis.
(Retirado do livro "As narrativas preferidas de um contador de Histórias", de Ilan Brenman)
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