quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Pelo e amor

Das compreensões súbitas, eis que a clareza do corpo despertou para a dança ancestral que esteve sempre ali, por dentro, no sangue, na veia, no DNA...
Antes da dança era o sonho no corpo da mulher que despertou para a vida. 
Ela canta uma canção intensa, que ninguém ainda escuta, mas ela reverbera belezas súbitas. 
Talvez ela desse voltas no mundo... Correndo atrás do vento... A beleza da existência da mulher era uma tarde de quinta feira ficar olhando o beija-flor voar de flor em flor... As nuvens gordas e brancas passeando pelo céu... A chuva que é uma promessa ainda distante. 
E de dentro de tantas considerações ela sorriu. E ficou assim percebendo a beleza da vida no canto de um passarinho... A mulher pensou no homem. E compreendeu que nenhum de nós temos certeza de absolutamente nada, mas continuamos tentando. E o homem de amor feito por todos os poros, brincando um sexo genital tão centralizado, ela amuada ainda no seu reverdecer, de ser gente, de opinar sobre si mesma, de botar o dedo na própria pele e dizer, sou eu. Esta sou eu. 
E entender que de seu caminho ela mesma entende. E se libertar pela garganta, falando de seus desejos, testando suas habilidades, vivendo os prazeres de ser, apenas. 
Cada um no seu tempo vai amadurecendo seus frutos. A mulher sabe do império que o homem construiu. E se percebe num tempo de construção: em busca de uma sensação de corpo. No caminho mesmo de ir juntando pequenos tesouros cotidianos, para constituir sua identidade, sim, não... Não está no tempo da desconstrução, mas da calma, da serenidade de visualizar o que se quer, para o tempo vindouro e ir passo a passo alcançando o ponto máximo. O Êxtase... 
E vai por caminhos novos, iniciando por dentro a caminhada, cada passo está sendo dado com o cuidado todo. Assim, ela vai percebendo a beleza de cada ente natural, cada um deles, seu irmão em natureza: a pedra, o vento, a lesma, a terra, o inseto... tudo, copulando e ebulindo: sobrevivendo. 
E já não lembra de ebulições antigas, mas vai nas ebulições do novo, transformando e compreendendo que todas as manifestações do homem, de todos nós seres vivos, estão no cerne do instinto de viver, de amar a vida, de estar pleno daquilo que se sente, do que se acredita ser bom para si e para o outro. 
A mulher teve dúvida, mas agora tem o coração tranquilo. Todos nós temos fragilidades. Certezas e incertezas. Por mais que o homem, tente mostrar que não, tente desviar o olhar, evitar o beijo, focar o desejo no fato... Ela compreendeu, até mesmo a aproximação do homem é amor. Tudo é amor. E esbarramos nos conceitos pré formulados. O poder da palavra, revirado. 
Cada passo um novo acordo consigo mesma. A vida caminha no passo em que é vivida. A mulher que dança e frui a existência na Terra, sabe da felicidade da existência do homem em sua vida e com respeito reverencia seu império, beija os pés do imperador, agradece a atenção e prossegue em busca da construção da sua oca interior, a matéria amorosa da vida. 
Com calma, lucidez e tato. A mulher está ávida e iluminada pelo toque do imperador. E agradece à vida pelas reverberações que atrai. Assim, sem fricções. Com ritmo e alegria no coração. Dançando ao dormir e ao acordar. Interligada aos seus entes queridos pelo sangue, pela pele, pelo tato. Pelo amor.

Danieli de Castro

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